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Diários de uma Quarentona

EU SOU, os meus pensamentos, valores, hábitos, hobbies e tudo que faço para manter o equilibro físico e mental. Ler, escrever, música, dançar, meditar, cozinhar, estudar e tudo aquilo que me faz feliz.

Diários de uma Quarentona

Barreiro

Memórias da minha terra

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Não pretendo desenvolver muito sobre a história do Barreiro, até porque esse papel já foi cumprido na perfeição por inúmeros autores aos quais aproveito para agradecer, mostrarem que a nossa terra tem muito para oferecer... Cultura, tradições e gentes com mais de 500 anos de história.

Os primeiros registos "daquela terra na margem sul do Tejo, onde o terreno era pastoso e barroso", datam de 1322. Mais tarde o "lugar de barreiro", por volta do séc. XIV começou a desenvolver com o aparecimento de pessoas que se dedicavam à pesca, extração de sal e moleiros principalmente. Foi elevada a vila em 1521 e a cidade em 1984.

Fomos um ponto estratégico na altura dos descobrimentos com os estaleiros navais e diz-se que Vasco da Gama cá vinha com regularidade para inspecionar as obras. Tinhamos mantimentos para a tripulação das naus, tinhamos vinho e mandou-se construir nessa altura um forno cerâmico, que fabricava biscoitos (certamente fizeram as delícias de muitos, em alto mar e quem sabe na Índia), ficava na Mata da Machada e no complexo Vale do Zebro ali ao lado, armazenavam-se os mantimentos. Hoje o complexo é a Escola de Fuzileiros Navais.

Fomos novamente um ponto estratégico com os caminhos de ferro que trouxeram à zona, mudanças económicas importantissímas. Apareceram as fábricas de cortiça, mais tarde a Quimigal, um complexo industrial, onde operava a fábrica de óleos, de sabão, metalomecânicas construçao naval entre tantas outras... Tinhamos muitas actividades como a pesca, salga de carne e peixe, madeira, etc..

 

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  Mas o que gostaria de partilhar é a minha história do Barreiro, a minha visão desta terra que amo, onde vivem familiares e amigos e onde nunca me canso de regressar. Até porque atrevo-me a dizer que o Barreiro está mais bonito do que nunca. Foram restaurados locais históricos como os Moinhos de Alburrica e dinamizadas áreas até aqui mortas e cinzentas. 

Antigamente quase ninguém frequentava as nossas praias, hoje em dia são destino de eleição para quem não se está para meter em confusões e só quer descontrair no fim de semana a beber um copo com os amigos e a conversar à beira Tejo. E hoje está assim com este nível.

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Que saudades daquelas tardes no Bar Do Bento, com os amigos, apanhávamos amêijoa e banhos de sol, os miúdos brincavam à beira rio, mesmo quando cortavam os pés nas ostras...Fazíamos piqueniques junto aos moinhos e dormimos muitas vezes na praia a ouvir música.

Continuamos a ser uma terra de colectividades e talentos, onde se promovem artistas musicais, escritores, fotografos e pintores. Temos inúmeros eventos, novas associações desportivas e culturais como a "Gasoline" que para além de dinamizar atividades como o Skate e surf, também têm uma consciência ambiental incrível. Parabéns Carrajola pelo teu grande contríbuto para a nossa terra, não só com a visibilidade que trouxe ao Barreiro, a visita do Mc Namara mas pela dinâmica que devolves à cidade com esta iniciativa.

Mantém-se a tradição da ginja na noite da consoada e a maioria da população adere em massa, juntam-se centenas de pessoas na Av. Alfredo da Silva, trocam-se abraços e abrem-se presentes de Natal antecipadamente. Bandas percorrem a avenida a tocar temas natalícios e o espírito é incrivel. Tanto que até o Presidente Marcelo cá vem marcar presença e degustar uma Ginja para abrir o apetite para o bacalhau!

Parabéns a todos que não deixam morrer esta cidade e que exploram o seu potencial em diversas àreas.     

 

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                      Nasci no Barreiro, o hospital já nem existe. Atualmente é a Santa Casa da Misericórdia (que de Santa não tem nada, temos isso em comum!). Foi inaugurado um novo complexo hospitalar em 1985, oito anos após o meu nascimento. Mas ok a santa casa, dá emprego à população e serve de residência a idosos e a vida dá tantas voltas que ainda lá vou outra vez parar um dia. 🤔☺

Cresci e vivi quase sempre no Barreiro, emigrei 4 anos e voltei para a minha terra, até há poucos anos atrás quando troquei o stress da cidade pela vida no Alentejo.

Mas a minha infância e adolescência foram recheadas de aventuras. Temos praia e ondas quando passa o barco. Sou do tempo de cruzar o Tejo de cacilheiro e apanhar aquela brisa matinal, a tomar o pequeno-almoço na varanda e as gaivotas a sentir o cheiro a comida!! Que luxo, cruzeiros no Tejo!! Recordo-me de virmos das discotecas da capital e deixarmo-nos dormir nos confins do barco, chegávamos a fazer 3 viagens até alguém nos encontrar...

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Na adolescência passávamos as tardes de domingo nas mátines da Gare e mais tarde já podiamos sair à noite! Tinha uma grande vida noturna o Barreiro, havia música para todos os gostos, as ruas estavam entupidas de gente e as duas discotecas do Barreiro Velho apinhadas. A minha preferida era " Os Franceses" que passava aquela música electrónica que tinha começado a descobrir.

Tinhamos a emblemática Vinícula, as colectividades como os Penicheiros, o Luso e o Barreirense...Tascas de eleição como o Papagaio...Do Portão à chapelaria não faltavam sítios de culto. Na Avenida da praia juntava-se malta a cantar, outros a beber uma cerveja e a tocar guitarra e jambé sentados na relva!

Que vida tinha a minha terra!

Sempre estivemos muito evoluídos a nível musical, não apenas na electrónica com tantos bons dj's locais, mas sempre conheci e descobri boas bandas de garagem e novos talentos. Prova disso é o OUT.FEST, Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro, que já vai na 17°edição.

Ao domingo via provas de camoagem no rio, campeonatos de vela (sendo alguns atletas locais referências da Vela Nacional), prática de windsurf....

A nível gastronómico, ninguém me tirava uma bela bola de manteiga (poucos conhecem esta iguaria da doçaria barreirense, que não sei ao certo quem foi o iluminado que inventou) da pastelaria Moderna que desde 1970 anda a engordar os barreirenses!!

Os pães com chouriço no Farnel também eram paragem obrigatória, especialmente depois de uma noite de rally tascas e quando a fomeca apertava!! Na minha juventude nos anos 90, o Barreiro era uma cidade multicultural, creio que este fenómeno se deveu em parte aos caminhos de ferro, pois toda a gente que pretendia apanhar o comboio para o Algarve tinha que vir ao Barreiro. Recordo-me de alturas em que apanhávamos o comboio para Setubal (para ir passar o dia a Tróia que nessa altura era para as nossas carteiras), ou para a aventura da passagem de ano em Albufeira. Conhecíamos sempre inúmeras pesssoas,  especialmente militares que faziam do Barreiro passagem obrigatória para apanhar o comboio ou namorar a míuda daquela paragem!!! Mas viam-se todo o tipo de pessoas de mochila às costas... Novos e velhos, apressados e descontraídos, a falar português, francês ou inglês...

O Barreiro não é, nem nunca foi apenas um dormitório.

O Barreiro tem vida!

 

Aqui sinto-me segura...Aqui estou em casa ♥️

 

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